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Campo Grande,06/10/2024

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Maduro deu sinais claros de que não tem interesse em negociar

g1.globo.com
Maduro deu sinais claros de que não tem interesse em negociar


Aprovação de lei contra ONGs mostra que isolamento da Venezuela não incomoda ditador: ele atua para consolidar o poder, embalado por falta de legitimidade e repressão. Maduro comparece à Suprema Corte venezuelana
Federico PARRA / AFP
Nicolás Maduro já deu todos os sinais de que não tem interesse em negociar sobre o resultado eleitoral ou mudar o seu status quo na Venezuela. O isolamento do país na região tampouco o incomoda; ele prefere aliar-se a outras autocracias, como Nicarágua, Rússia e China.
As propostas de uma solução pacífica para crise política implicariam uma mudança de postura do regime venezuelano, e isso não está em questão, conforme as medidas tomadas desde o dia 28 de julho.
Todos os caminhos na Venezuela levam a consolidar o poder de Maduro. As atas de votação não foram nem serão apresentadas pelo Conselho Nacional Eleitoral, que delegou o assunto ao Tribunal Supremo de Justiça, também alinhado ao regime. A cúpula das forças armadas reforçou o apoio incondicional ao ditador, sustentando a sua permanência no cargo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem razão quando avalia que a situação no país vizinho está deteriorada. Com a ajuda da Colômbia, Brasil, contudo, lança propostas que soam infrutíferas, como a realização de novas eleições ou um governo de coalizão na Venezuela.
Lula parece querer ganhar tempo para sair do imbróglio em que se meteu — o de botar fé em Maduro e acreditar que as eleições pela via da legitimidade seriam possíveis na Venezuela. Firmado em outubro passado, o Acordo de Barbados está aí para mostrar que o ditador não é confiável em qualquer negociação.
Maduro desrespeitou a maioria dos artigos a que se comprometeu, até concluir, quatro meses depois, que o pacto estava “ferido mortalmente”, elucubrando teorias conspiratórias.
As eleições foram antecipadas pelo ditador, e a participação da líder opositora, María Corina Machado, vetada por determinação do regime. Ainda assim, o pleito se realizou com um desafiante desconhecido, Edmundo González Urrutia, que em pouco tempo ganhou prestígio, tornando-se a expressão do desagrado popular a Maduro.
Tudo que aconteceu antes e depois de 28 de julho seguiu o script madurista, embalado por descrédito, falta de legitimidade e repressão. Resultados tão discrepantes como os apresentados pelo regime e pela oposição deveriam supor, a princípio, uma auditagem independente. Mas essas ferramentas não estão disponíveis ou previstas no regime perpetrado há 25 anos no país.
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Graças às ONGs que sobrevivem às duras penas na Venezuela, como o Foro Penal, sabemos que 1.406 pessoas foram presas desde o fim das eleições e mais de 20 assassinadas nos protestos que se seguiram. Vinte e cinco entidades denunciaram a anulação de passaportes a ativistas, defensores de direitos humanos e jornalistas dentro e fora da Venezuela.
Em pouco tempo, a atuação das ONGs, essenciais na missão de preservar o restrito espaço cívico no país, será limitada, após aprovação nesta quinta-feira, por unanimidade, de um projeto de lei, na Assembleia Nacional, que visa ao seu controle pelo governo.
Os opositores a apelidaram de “Lei Anti-Sociedade”, tal o estrago que fará à população venezuelana. O timing de sua aprovação diz muito sobre as intenções de Maduro e o seu desprezo pelo diálogo político.




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